Há dias que amor nos surge de variadissimas formas... há dias que nos apetece ir por aí e dizer que estamos e que somos felizes.... há dias...há dias que o próprio mundo se transforma em AMOR...
"Eu amo-te…
Significa…
Amar não existe no infinito…sujeito e objecto atingem a palavra ao mesmo tempo que esta é proferida..
Dizer “eu amo-te” é fazer como se não existisse qualquer teatro da palavra.
“Eu amo-te” não é uma frase: não transmite um sentido, mas prende-se a uma situação limite: «aquela em que o sujieto está suspenso numa relação especular com o outro.» è uma holofrase.
Ainda que se diga milhares de vezes “Eu amo-te” não entra no dicionário. É uma figura cuja definição não pode exceder o intitulado.
A palavra-frase só faz sentido no momento em que a pronuncio; não existe nela outra informação senão o seu dizer imediato, não há nenhuma reserva, nenhum depósito de sentido.
“Eu amo-te” não depende nem da linguística nem da semiologia. A sua instância estaria antes na Música. Quando se profere “Eu amo-te” o desejo não é recalcado (como no enunciado), nem reconhecido (como na enunciação), mas simplesmente: sentido.
O prazer não se diz; mas fala e diz: eu amo-te
Eu amo-te. Eu também.
Não é uma resposta perfeita, mas é suficiente para pôr em marcha um completo discurso de júbilo: júbilo muito mais forte por resultar de uma transformação
Eu amo-te não é um sintoma, eu amo-te é uma acção.
Pronuncio para que me respondas e a forma escrupulosa da resposta tomará um valor efectivo à maneira de uma formula.
É necessário que o sujeito interpelado aceite formular, pronunciar o eu-amo-te.
Mélisande morre a seguir, porque ele sabia que era esta a resposta que esperava….
O sujeito apaixonado não quer ser só correspondido no seu amor, de o saber e ter a certeza…mas quer ouvir dizer, de uma forma afirmativa, completa e tão articulada como a sua.
Pretendo receber com toda a força, inteiramente, literalmente, sem fugas, a formula, o arquétipo da palavra de amor, sem escapatórias sintácticas, sem variações… que as duas palavras respondam em bloco.
Importa a proferição física, corporal, labial da palavra: abre os lábios e que isso saia (sê obscena). O que quero perdidamente é obter a palavra.."
Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes
segunda-feira, 31 de março de 2008
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