"Quantas vezes abriu a sua caixa de correio com ansiedade, para fechá-a depois, abatido, levando nas suas mãos apenas o recibo da luz? Não é verdade que, com a surpresa da manhã, espera sempre que o cacifo encerre essa carta memorável que guardará de imediato entre as páginas de um livro amado (um livro que, com o passar do tempo, ficará com as páginas amarelas, mas a carta, oh, essa carta, terá sempre a mesma emoção)?
Pegou na carta; se o seu nome assoma por uma janelinha à direita, sob a transparência do celofane, é provável que a dobre, que a esconda sob a pálpebra da sua algibeira, ou que a deixe esquecida em qualquer canto, como a uma virgem sem mistério.
Talvez o seu nome não apareça através duma janelinha; os seus dedos, pleo contrário, tropeçam agora com uma extremidade mais fria que o papel: murchou-se o assombro. Uma etiqueta de computador contem os sue sdados; o remetente, colocado no rosto do envelope, delata uma instituição, uma empresa: é possível que seja uma multa.
Mas existem, como sabe, outras cartas. Cartas que anseiam pelo seu tacto na penumbra da caixa de correio, leves como uma carícia. Cartas que guardam à noite, o confuso perfume dio abraço, as bocas que se procuram, a música perdida que escondiam os corpos, a marca do tremor...
Abre a carta no próprio patamar das escada e o mundo desvanece-se de uma penada, gira, envolve-o, cega-o, arrasta-o: queima a tinta nos seus dedos. As frases repetrem o rumor dos lençóis, a paixão e as suas sombras, apaga-se o dia.
Talvez tenha sido um encontro de uma noite: onde terá descoberto a minha direcção? que amigo indiscreto, que espertalhação fogoso, que guia impridente...? Esconde a carta, o seu par desce as escadas assobiando Perfídia, treme, treme, treme, treme, é mais ciumenta que Otelo.
A carta, no entanto, estará todo o dia à espreita.
Pegou na carta; se o seu nome assoma por uma janelinha à direita, sob a transparência do celofane, é provável que a dobre, que a esconda sob a pálpebra da sua algibeira, ou que a deixe esquecida em qualquer canto, como a uma virgem sem mistério.
Talvez o seu nome não apareça através duma janelinha; os seus dedos, pleo contrário, tropeçam agora com uma extremidade mais fria que o papel: murchou-se o assombro. Uma etiqueta de computador contem os sue sdados; o remetente, colocado no rosto do envelope, delata uma instituição, uma empresa: é possível que seja uma multa.
Mas existem, como sabe, outras cartas. Cartas que anseiam pelo seu tacto na penumbra da caixa de correio, leves como uma carícia. Cartas que guardam à noite, o confuso perfume dio abraço, as bocas que se procuram, a música perdida que escondiam os corpos, a marca do tremor...
Abre a carta no próprio patamar das escada e o mundo desvanece-se de uma penada, gira, envolve-o, cega-o, arrasta-o: queima a tinta nos seus dedos. As frases repetrem o rumor dos lençóis, a paixão e as suas sombras, apaga-se o dia.
Talvez tenha sido um encontro de uma noite: onde terá descoberto a minha direcção? que amigo indiscreto, que espertalhação fogoso, que guia impridente...? Esconde a carta, o seu par desce as escadas assobiando Perfídia, treme, treme, treme, treme, é mais ciumenta que Otelo.
A carta, no entanto, estará todo o dia à espreita.
Clara Obligado e Angel Zapata
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